A tradução literária é para mim um destes livros como A arte
da Guerra ou O Príncipe: pode se aplicar a quase qualquer coisa. Independentemente
de seu tema principal, se lido com o olhar certo, pode facilmente ser aplicável
ao aconselhamento do viver melhor, um guia de saúde ou até mesmo um manual de
negócios.
Sua camada primeira, autoexplicável pelo título, versa sobre
a experiência de traduzir literatura. O autor apresenta diversas correntes de
pensamento, mas sem medo de se posicionar e, tão raro hoje em dia, argumentando
loquazmente os porquês de sua posição.
Ao longo do texto outras camadas se depreendem e sua
principal lição é que a tarefa do tradutor “é em última análise, inatingível”,
e mesmo assim, este deve, ciente de sua impotência, dar o melhor de si para
alcançar o impossível. Como nas Utopias de Quintana:
“Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!”
Assim, por renovar minha inspiração no almejar o melhor que
posso, Paulo Henriques Britto recebe meus louros nesse ano de 2023.