quarta-feira, novembro 14, 2012

Laureado 2012 – Tiago Santos


Por sorte minha, a vida não para de me surpreender. Este ano, o inusitado da premiação fica por conta da láurea de um autor ainda não publicado. Apesar de sua vasta experiência na escrita cinematográfica, foi com seu inédito livro de contos “A velocidade dos objectos metálicos” que o escritor e roteirista português Tiago Santos me arrebatou. Já logo no primeiro parágrafo de seu “manuscrito” ele desfere seu primeiro golpe:

Ele gosta do seu gabinete, da secretária de madeira imponente e pesada, da forma como as canetas se compõem no lado direito, junto à fotografia da família; ele próprio, uma mulher bonita de cabelo preto apanhado num rabo-de-cavalo que não sorri e uma rapariga de sete anos que mostra demasiado os dentes (falta-lhe um no meio) entre eles.

Li o livro com atenção e não parei de ressaltar passagens extraordinárias. Mas como escrever bem não é o suficiente para receber este prêmio, preciso ressaltar que sua forma de ver o mundo embotou a minha e, é por isso que ele merece essa láurea: por ensinar uma nova ótica para enxergar as coisas cotidianas, Tiago Santos recebe minha láurea neste ano de 2012.

[L.M.]

"¿O incêndio iniciado sob as prateleiras de bebidas, agravado pelo romper das garrafas de alto teor alcoólico, principalmente conhaques e uísques, muitas vezes servidos diluídos em água para enganar os clientes, teria sido acidental? A polícia local, embora não tivesse se manifestado oficialmente, desconsiderava a hipótese, pois, do contrário, as saídas de emergência da casa não estariam passadas à corrente pelo lado de fora e as treze vítimas fatais teriam escapado apenas com leves chamuscos e alguma pouca fumaça nos pulmões.
Soube naquele dia que eram onze mulheres ao todo, nove delas brasileiras, uma polonesa e uma ucraniana. Do homem morto, ninguém sabia dizer mais do que seu nome, Mihajlo, e que lhe faltava o olho esquerdo, e que era famoso por abrir tampinhas de garrafas de cerveja naquela cavidade ocular desfalque e que era oriundo dos bálcãs, precisamente não se sabe de onde. Também ninguém conseguiu explicar-me a ligação do meu irmão com aquela tragédia."

(Leandro Müller, in “¿Integridade?”)

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