Este ano se mudou para o meu Bairro um tal Senhor Gonçalo, que logo assumiu a presidência da Associação dos Moradores, e a vizinhança de imediato ficou melhor. Atrás da barba e dos óculos, sua primeira medida foi inventar a literatura de precisão, que acertava em cheio, milimetricamente, bem no meio da gente. Dizia ele que éramos nós que íamos em cheio na literatura, como se fosse o mesmo acertar a flecha no centro do alvo ou o dar com o centro dele contra a lâmina da seta.
Depois, reduzindo ainda mais a pouca fala com muito dizer, inventou de fazer sentenças com formas geométricas. Observou um quadrado, por amor, tornar-se um círculo. Não sei quanta gente vê isso, mas é como testemunhar uma vespa fingindo ser flor.
Pela amplitude vocabular de expressões não dicionarizáveis, Gonçalo recebe meus louros neste ano de 2009.
[L.M.]
(Leandro Müller, in Haldora: a literatura e suas almas)
Rio de Janeiro, 14 de novembro de 2009.
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