domingo, novembro 15, 2009

Homenageado 2009 - Augusto Monterroso

Busco meios para apresentar porquê, embora tenha a certeza dos motivos. Tento convencer-me que foi bom e que não devo odiá-lo. Em verdade, não há mesmo recentimentos, ao contrário, guardo-lhe afeto e estima.


Minhas idéias não param mais e desde que comecei a crer que literatura é movimento, viciei-me nos pensamentos rápidos. Assim, pelo transtorno que anda a me causar, Augusto Monterroso recebe minha homenagem em 2009.


[L.M.]


“A cabrita negra

Em uma época muito distante, havia uma ovelha que pensava que era negra e sempre se atrapalhava com o nome das coisas e trocava as palavras e nunca compreendia sua sociedade e seus semelhantes.

Isso, até o dia em que descobriu que não era uma ovelha negra, mas uma cabrita.”


(Leandro Müller, Fabulário Caprino e outras histórias para boi dormir)


www.fabulariocaprino.blogspot.com


Rio de Janeiro, 14 de novembro de 2009.

Laureado 2009 - Gonçalo M. Tavares


Este ano se mudou para o meu Bairro um tal Senhor Gonçalo, que logo assumiu a presidência da Associação dos Moradores, e a vizinhança de imediato ficou melhor. Atrás da barba e dos óculos, sua primeira medida foi inventar a literatura de precisão, que acertava em cheio, milimetricamente, bem no meio da gente. Dizia ele que éramos nós que íamos em cheio na literatura, como se fosse o mesmo acertar a flecha no centro do alvo ou o dar com o centro dele contra a lâmina da seta.

Depois, reduzindo ainda mais a pouca fala com muito dizer, inventou de fazer sentenças com formas geométricas. Observou um quadrado, por amor, tornar-se um círculo. Não sei quanta gente vê isso, mas é como testemunhar uma vespa fingindo ser flor.

Pela amplitude vocabular de expressões não dicionarizáveis, Gonçalo recebe meus louros neste ano de 2009.

[L.M.]

























(Leandro Müller, in Haldora: a literatura e suas almas)

Rio de Janeiro, 14 de novembro de 2009.