sexta-feira, outubro 27, 2006

Laureado 2004 - Manoel de Barros

Ainda me é fresco na memória o dia em que ele me disse: “Leandro, para entender nós temos dois caminhos: o da sensibilidade que é o entendimento do corpo; e o da inteligência que é o entendimento do espírito. Eu escrevo com o corpo. Poesia não é para compreender, mas para incorporar. Entender é parede: procure ser uma árvore”. Sorri e acenei com a cabeça concordando. Mas antes, desconfiei por alguns instantes daquele homem que fotografava o silêncio. É difícil confiar em alguém que fotografa o silêncio. Foi só depois de ver as fotos reveladas que eu tive certeza de haver encontrado. Ainda não sei o que encontrei, contudo, definitivamente, naquele dia eu havia encontrado.

Esperei 26 anos para que alguém me dissesse o que ele me disse. Hoje minhas raízes voltaram a ser semente.

Receba meus louros, Manoel.

«L.M.»

“Alguns dias se acontecem de maneira estranha. Hoje foi um desses dias maravilhosos. O extraordinário não se deu propriamente no dia, mas sim quando ele já se anunciava terminado. Tecnicamente, hoje já era amanhã, embora ele ainda não houvesse encerrado seu expediente. O acontecimento foi uma sonoridade materializada em acordeão que nos socorreu no fim da noite. Um acordeão que fazia uma imensa algazarra nas pessoas que se perdiam por ali naquela condução. O irônico foi nós acabarmos de ter lido Manoel de Barros. Voltei para casa me sentindo árvore.

Quisemos escrever sobre esse sentimento, mas só nos fizemos dançar.”

(Assietuapax, in Pequeno Tratado Hermético sobre os Efeitos de Superficie)

Rio de Janeiro, 14 de Novembro de 2004

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